Algum capítulo de alguma coisa

Escuridão, dor, Zumbidos. o gosto familiar de metal, líquido em sua boca. Em meio a desorientação e a desordem da batalha Aarin sabia que teria de se levantar, e rápido, se quisesse fazer todas aquelas mortes valer a pena. Seu inimigo corria e gritava e sua direção, com um pequeno sorriso e os olhos de um animal que sabe que matou sua presa; -Aonde está a merda do meu martelo?- Aarin pensava enquanto vasculhava seus arredores com o movimento dos olhos.

– Que maravilha. – Seu martelo havia caído colina abaixo, não tão longe, mas ainda sim sem chances de alcançá-lo a tempo. não teria chance de escapar de seu caçador, ele estava muito perto, muito rápido, muito… em pé. Olhou para o céu, se fosse morrer, que seja olhando para as estrelas. De repente, um borrão vermelho passa rodopiando no meio daquela imagem e imediatamente Aarin sabia o que havia acontecido. Birger veio ajudá-lo.

-Minha nossa! Olha isso irmão! Olha! Eu sou praticamente um artista! – Com um sorriso estúpido no rosto. – Vamos lá! levante-se! Aonde está seu martelo?
-Nos arbustos – Aarin respondeu – vá buscá-lo que eu busco seu machado.
-Sabia que você ia estragar minha diversão. Clássico. – Birger retrucou, ainda com o sorriso estúpido. – Rápido!, não temos muito tempo, o Barão já percebeu a emboscada e se prepara para fugir.

Aarin se levantou, ainda tonto pela pancada. Maldito Birger. Seu machado estava cravado bem no meio da testa do homem, cuja cara se assemelhava a de um maníaco, com os olhos abertos e um sorriso demente. Era realmente uma obra de arte se pararmos para pensar, de um artista bárbaro homicida, mas ainda sim, arte. Aarin retirou o machado adornado com uma fita vermelha do crânio do homem e foi em direção ao seu irmão, que sofria para carregar o pesado martelo de guerra.

– Aqui está. Agora devolva meu machado, se não minha lança vai ficar triste.
– Colina acima, Birger. Tenho a sensação que o Barão não vai esperar muito mais tempo – e começaram a correr, ignorando o derramamento de sangue ao seu redor e o massacre que suas forças estavam sofrendo – Ignore, Birg. Nós temos uma única missão e não podemos nos distrair. o Barão morre, hoje.

Uma vez no topo da colina, os dois se depararam com o Barão, esperando-os rodeado por, no mínimo, 40 guarda-costas de armadura completa, parecendo estátuas gigantes.
-Eu sabia que você ia fugir e se esconder, seu covarde! Você nunca foi homem o suficiente. – Aarin cuspiu ao chão – venha e nos enfrente, verme.

SIlêncio foi tudo o que receberam como resposta. De repente, a formação começou a se abrir, lentamente, solenemente, para revelar o Barão em seu centro. Equipado com sua armadura preta espinhada e duas espadas o Barão realmente parecia intimidador. Birger estava nervoso, todos os músculos em seu corpo queriam correr para cima do homem e socá-lo até sua cabeça afundar, mesmo sabendo que o matariam antes mesmo de tocá-lo. Aarin, percebendo a inquietação do irmão, deu um passo à frente.

-Estou cuidando bem de sua orelha, olhe! – tirou um pano de um vão de sua armadura e desembrulhou-o, revelando um pedaço podre e preto de carne – Acho que vou pendurá-la no pescoço depois de cortar o resto da sua cabeça fora.

-O senhor certamente é um homem interessante, Aarin. – o Barão disse, quebrando seu silêncio – Nunca pensei que essa sua rebeliãozinha fosse durar tanto tempo, muito menos que fosse me custar uma orelha. – de repente, ele começa a bater palmas e rir incontrolávelmente – Mas tenho que ser honesto, há muito tempo não me divirto assim. Seus homens serviram como um bom treinamento para meu exército, se eu não te odiasse tanto assim, poderia te manter vivo para ver seu irmão morrer lentamente enquanto eu o torturo, dia após dia após di…
-Ei! Orelheta! Vá se foder! Um homem é feito mais do que só palavras – Birger disse, com fumaça saindo da cabeça raiva. Um ato que iria custar muito caro para os dois irmãos.
– Então o cão sabe falar! Interessante… Bom, estou vendo que os dois querem me provocar até que eu saia da minha proteção. Façamos o seguinte: Vocês dois contra mim e 9 dos meus melhores guarda-costas, que tal? Ou vocês preferem esperar a guerra lá embaixo acabar e ser vocês dois contra todo meu exército? Escolham rápido, minha paciência está acabando.
-10 contra 2 não parece justo, não? Que tal eu contra você? – Aarin tentou um último apelo, talvez o barão seja orgulhoso.
-Hahahaha, o mundo não é justo, caro Aarin. Agora, marchem para sua morte.

Ao entrar no círculo, uma parede daquelas montanhas em armadura se formou, delineando a área da batalha. De um lado, os dois irmãos, machado e lança, martelo e escudo, preparados para lutar até a última gota de vida. Do outro, nove montanhas faziam uma formação e o Barão ficava atrás dela; sentou no chão, cruzou as espadas, fechou os olhos e, sem aviso prévio:

-Comecem.

As nove montanhas começaram sua marcha, devagar, sem medo dos dois oponentes que viam a sua frente. Aarin correu em direção aos 9, escudo levantado, com Birger logo atrás. Chegaram na distância desejada e Aarin se agachou para Birger arremessar sua lança contra a montanha da esquerda, acertando-a em cheio no peito e derrubando-a.

-Agora são só 8, irmão.
-É, só 8.

Começaram a correr em direção ao primeiro corpo caído para recuperar a lança de Birger e agora as montanhas davam sinal de vida e a golpeá-los antes que conseguissem atingir seu objetivo

-Não podemos ser encurralados, Birg! Só tenho um escudo! – o barulho das vozes e do som de impacto do metal se misturavam numa sinfonia retorcida
-Eu sei seu tapado, eu que te ensinei isso. A sua direita!! – a espada da maior das montanhas se chochou na lateral do escudo de Aarin, fazendo com que seu braço estremecesse devido ao impacto, e Birger, vendo sua oportunidade aparecer, acertou o machado na cabeça desprotegida da montanha, que ainda estava com a guarda baixa – Agora 7!

Aarin recuou com Birger ao seu lado, as montanhas restantes estavam conseguindo encurralá-los contra o círculo e, do outro lado, o barão continuava sentado, de olhos fechados, como se tudo aquilo o ajudasse a ter uma boa noite de sono. Começaram a ser atacados, 3 contra cada e um último restante pacientemente aguardando sua vez, afinal, sabia que aquilo não ia demorar muito. Birger precisava de sua lança, arremessá-la no começo do duelo não fora uma boa idéia, eles estavam sendo massacrados. O grande martelo de Aarin só servia para afastar seus inimigos por um tempo, seu ferimento na cabeça não tinha parado de sangrar e incapacitava parte de sua visão, seu escudo estava sendo constantemente atacado e Birger não conseguia fazer outra coisa se não defender os ataques em sua direção. Nós não vamos conseguir, vamos falhar com a rebelião. Todas aquelas mortes em vão..

-Aar! Nós temos uma única missão e não podemos nos distrair. o Barão morre, hoje. é o que você disse. Me ajude a pegar minha lança de volta!

Não precisavam combinar táticas, Birger conhecia Aarin e Aarin conhecia Birger, estavam conectados por muito mais que só sangue. Aarin empurrou dois de seus oponentes no chão com o escudo e martelou o pescoço do terceiro.

-2 a 1 pra você ainda, Birg.

Birger aproveitou a chance, chutou seu oponente mais à frente abrindo espaço suficiente para correr em direção a lança e correu. Correu como se tudo dependesse dele correr aquela distância antes das montanhas se recuperarem. De repente, ardência. A força de sua perna esquerda se foi. Birger caiu no chão e gritou de dor, um dardo flamejante, lançado pela montanha que estava esperando, havia atravessado sua perna. O fogo começou a corroer sua proteção de algodão e começou a queimar carne e músculos. O mundo de Aarin parou ao ouvir aqueles gritos, nada era mais importante do que ajudar seu irmão, nem a rebelião, nem matar o Barão, nem voltar para Asta. Birger precisava de sua ajuda. Ele vai morrer queimado. Aarin arremessou seu escudo contra as montanhas e abriu caminho para ajudar Birger mas o fogo já havia se espalhado por toda sua perna e começava a subir para seu torso.

-A lança, Aarin!, Pegue a lança! Você ainda pode jogá-la!, Me obedeça! – Ao dar essa ordem os olhos de Birger ficaram vermelhos e Aarin foi tomado por algo que o fez obedecer a ordem de Birger, ignorando o fogo que estava o matando e fazendo o que lhe foi comandado. Perdoe-me, irmão. Birger se levantou com suas últimas forças e partiu a comprar tempo para seu irmão, impedindo as montanhas de chegar até ele. – Arremesse-a!

Aarin chorava, não conseguia ver seu irmão morrendo na sua frente e não fazer nada, algo o estava impedindo de fazer o que sua mente comandava. Arremessou-a. O barão estava muito longe, sua visão ainda estava comprometida e suas forças já tinha se acabado; aquela lança demorou anos para atingir seu alvo, enquanto ela ia, Aarin fora acertado por um golpe de maça em seu elmo – de novo – e, caindo ao chão, viu aonde a lança acertara. Em cheio, lado direito do peito do Barão, que caiu imediatamente para trás com a força do impacto, uma expressão surpresa na cara e a raiva de mil homens nos olhos. Antes de apagar, Aarin só vira de relance seu irmão quase completamente envolto por chamas, sem a mão esquerda e parte do braço direito, se arremessando em cima das montanhas, na esperança de queimá-las junto com ele e de proteger seu irmão nocauteado. E então zumbidos, dor, escuridão, silêncio.